sábado, 6 de fevereiro de 2021

Morrer em Paz

MORRER EM PAZ
Deixe-me na companhia de meus maus hábitos,
não perturbe-me falando em glúten, maionese,
dispenso esse falatório de comida, em catequese,
cuidarei bem da obesidade, das dores, do mau hálito.
Admito, é bem verdade, sofro muito em hospitais,
filas, exames, injeções, soro, remédio, internação,
já não dou conta do tédio, nem de tanta depressão,
que dominam o meu ser, quais abutres, tão mortais.
Embriago-me em docinhos, tortas e refrigerantes,
assassinos tão cruéis, meus verdugos, comandantes,
que apressam minha morte e a mensagem “aqui jaz”.
Oh, Deus perdoe-me esta vivência infeliz, artificial,
esta macabra teimosia que organiza o funeral,
porém ilude-me a ideia de poder morrer em paz.
Alexandre Pimentel
Gravataí, 6 de fevereiro de 2021.

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